terça-feira, 21 de agosto de 2012

Custo de um filho

  Não sei qual a qualidade da fonte e como esse custo foi calculado, mas é caro mesmo um filho. Esse fato ajuda a explicar muito a queda na taxa de natalidade no Brasil e em outros lugares.

  São Paulo, segunda-feira, 20 de agosto de 2012Mercado

Mercado


Filho pode custar R$ 2 milhões até 23 anos
Valor considera gastos em uma família da classe A; montante pode chegar a 407 mil na classe C, aponta estudo
Planilha de gastos e pesquisa de preço são fundamentais para evitar sustos depois do nascimento do bebê
DE SÃO PAULO
Quanto custa um filho?
A pergunta pode parecer fria, mas é essencial quando o assunto é a chegada de um bebê na família. Por isso, é preciso pôr tudo no papel para evitar surpresas.
O filho de uma família de classe A pode custar cerca de R$ 2 milhões do nascimento até os 23 anos, quando, em geral, ensaia sua independência, segundo estudo do Invent (Instituto Nacional de Vendas e Trade Marketing). Na classe C, os gastos chegam a R$ 407 mil.
E nem entram nessa conta as despesas feitas durante a gestação, como quarto do bebê (e mudança para outro apartamento, em alguns casos), carrinho, banheira, fraldas, enxoval e até um carro, se o casal decidir que a compra é necessária.
Para essa fase, o educador financeiro Mauro Calil recomenda: separe o que é desejo do que é necessidade, fuja das grifes e peça fraldas no chá de bebê.
O planejador Marcos Silvestre acrescenta: pesquise preços em diferentes áreas da cidade e monte uma planilha para, só depois, comprar.
Além disso, é preciso contar com os gastos do acompanhamento médico e com as despesas do parto, que chega a custar cerca de R$ 15 mil, segundo Calil.
A massoterapeuta Daniella Bassanese, 40, e o marido esperaram dois anos -antecedência que os especialistas recomendam para planejar a chegada de um filho- por alguma estabilidade.
"Para a gestação, tínhamos nos planejado. Vimos convênio, por exemplo, para não precisar pagar o parto à parte se engravidasse. Mas o que tem aumentado é o custo depois que ela nasceu", diz. Ela precisou de uma babá, que não planejou, e se surpreendeu com o aumento das contas de luz e de telefone.
Nessa soma, que pode chegar a cifras milionárias, devem entrar também gastos com vacinas, pediatra, farmácia e roupas novas, além de detalhes eventuais. "Tem estacionamento, por exemplo, porque já não paramos o carro em qualquer lugar."
Um fundo de reserva pode ajudar nessas horas e evitar acumular dívidas. "Recomendo colocar algo como R$ 10 mil em um investimento conservador. É um recurso disponível para qualquer imprevisto", afirma Renato Roizenblit, da SLW Corretora.
Reinaldo Domingos ressalta a necessidade de se colocar o orçamento no papel antes da gravidez e diz que toda família tem um excesso de 20% a 30% nos gastos. "Só cortando desperdícios e alguns supérfluos, a família pode conseguir assumir os gastos sem maiores problemas."
SEGURANÇA
É preciso lembrar também que o bebê vai crescer e demandar mais dinheiro com estudo, saúde e vida social.
Portanto, é dever dos pais pensar no futuro da criança. "Em geral, você tem o primeiro filho quando está construindo patrimônio. Então, é importante analisar a necessidade de um seguro de vida, pois tem uma pessoa que depende 100% de você", diz Roizenblit.
Os especialistas recomendam que se faça um investimento para o filho ainda bebê, como uma carteira de ações -aplicação que deve ser feita pensando no longo prazo-, uma poupança ou um plano de previdência privada.
A educadora financeira Cássia D'Aquino, no entanto, conta que tem visto casais que planejam demais.
"Eles já querem, antes do casamento, ter um apartamento quitado e bem decorado e dois carros quitados. Só depois será a hora de ter o filho", afirma.
"Nessa aflição, deixam de considerar que crianças, geralmente, são o inverso de qualquer planejamento." (MARIA PAULA AUTRAN)

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Adeus aos milagres de crescimento


Adeus aos milagres de crescimento - Valor Econômico, 16/08/2012.


Por Dani Rodrik

Um ano atrás, os analistas econômicos estavam atordoados de otimismo sobre as perspectivas de crescimento econômico no mundo em desenvolvimento. Em contraste frente aos EUA e a Europa, onde as perspectivas de crescimento pareciam fracas, na melhor das hipóteses, esperava-se que os mercados emergentes sustentassem seu forte desempenho iniciado na década anterior à crise financeira mundial e, assim, se tornassem o motor da economia mundial.
Os economistas do Citigroup, por exemplo, ousadamente concluíram que as circunstâncias nunca tinham sido tão favoráveis a um crescimento amplo e sustentado em todo o mundo, e projetaram uma crescente e rápida produção mundial até 2050, puxada pelos países em desenvolvimento na Ásia e na África. A PwC, firma de contabilidade e consultoria previu que o crescimento do PIB per capita na China, na Índia e na Nigéria ultrapassaria 4,5% até meados do século. A empresa de consultoria McKinsey & Company batizou a África, há muito tempo sinônimo de fracasso econômico, de terra dos "leões em movimento".
Hoje, essa conversa foi substituída pela preocupação com o que "The Economist" chama de "a grande desaceleração". Recentes dados econômicos sobre a China, a Índia, o Brasil e a Turquia apontam para um desempenho mais fraco do crescimento nesses países nos últimos anos. O otimismo deu lugar à dúvida.
Daqui para a frente o crescimento terá de se basear em grau bem maior na melhoria sustentada do capital humano, das instituições e de governança. E isso significa que o crescimento continuará a ser lento e difícil, na melhor das hipóteses.
Evidentemente, assim como foi inadequado extrapolar a partir da década anterior de forte crescimento, não deveríamos tirar grandes conclusões a partir de flutuações de curto prazo. Apesar disso, existem fortes razões para acreditar que o crescimento rápido será exceção, e não regra, nas próximas décadas.
Para ver o porquê disso, precisamos entender como são produzidos "milagres de crescimento". Com exceção de um punhado de pequenos países que se beneficiaram de uma abundância de recursos naturais, todas as economias bem-sucedidas nas últimas seis décadas devem seu crescimento à industrialização rápida. Se há uma coisa com a qual todos concordam sobre a receita do Leste Asiático é que o Japão, Coreia do Sul, Cingapura, Taiwan e, é claro, a China, foram, todos, excepcionalmente bons em transferir sua mão de obra rural (ou de atividades informais) para a indústria de transformação organizada. Casos anteriores de êxito em tirar países de atraso econômico, como os EUA ou a Alemanha, não foram diferentes.
O setor de manufatura permite rápido avanço porque é relativamente fácil copiar e implementar tecnologias de produção estrangeiras, mesmo em países pobres que sofrem de diversas carências. É notável, como revelam minhas pesquisas, que as indústrias de transformação tendem a estreitar a distância em relação à fronteira tecnológica à taxa de cerca de 3% ao ano, independentemente de políticas econômicas, instituições ou fatores geográficos. Em consequência, os países capazes de transformar agricultores em operários colhem um enorme benefício em termos de crescimento.
Sem dúvida, algumas atividades de serviços modernas são também capazes de produzir convergência de produtividade. Mas a maioria desses serviços requer uma grande variedade de habilidades e capacitação institucional que as economias em desenvolvimento acumulam apenas gradualmente. Um país pobre pode competir facilmente com a Suécia em um amplo leque de manufaturas, mas são necessárias muitas décadas, se não séculos, para desenvolver instituições como as suecas.
Consideremos a Índia, que demonstra as limitações de apoiar-se em serviços, em vez de basear-se na indústria, durante os primeiros estágios de desenvolvimento. O país tem desenvolvido uma capacitação notável em serviços de TI, mas a maioria da força de trabalho indiana não tem as habilidades e a educação para ser absorvida nesses setores. No leste asiático, o trabalhador não qualificado foi trabalhar em fábricas urbanas, ganhando muito mais do que ganhavam no campo. Na Índia, eles permanecem na terra ou transferem-se para serviços triviais onde a produtividade não é muito maior.

Desenvolvimento bem-sucedido em longo prazo, portanto, requer esforço em duas frentes. Isso requer um esforço de industrialização, acompanhado pelo acúmulo incessante de capital humano e de capacitação institucional para manter um crescimento centrado em serviços, depois que a industrialização atinge seus limites.
Mas essa receita testada pelo tempo tornou-se muito menos eficaz, nos dias de hoje, devido às mudanças nas tecnologias de manufatura e no contexto mundial. Primeiro, os avanços tecnológicos tornaram a indústria de transformação muito mais intensiva em habilidades e capital do que no passado, mesmo na região de baixa qualidade do espectro. Em consequência, a capacidade da indústria de absorver mão de obra tornou-se bem mais limitada. Será impossível, para a próxima geração de países industrializados, deslocar 25% ou mais de sua força de trabalho para atividades de manufatura, como fizeram as economias do Leste Asiático.
Em segundo lugar, a globalização, em geral, e a ascensão da China, em particular, acirraram muito a competição nos mercados mundiais, tornando difícil, para os recém-chegados, abrir espaço para si mesmos. Embora a mão de obra chinesa esteja encarecendo, a China continua a ser um competidor formidável para qualquer país que esteja tentando concorrer no setor de manufatura.
Além disso, é improvável que os países ricos sejam tão permissivos diante de políticas de industrialização como no passado. Os formuladores de políticas no núcleo industrial fecharam os olhos para o fato de países de crescimento rápido no Leste Asiático adquirirem tecnologias e capacitação industrial ocidental por meio de políticas não ortodoxas.
Agora, porém, quando os países ricos estão em dificuldades, eles aplicarão maior pressão sobre os países em desenvolvimento para que cumpram as regras da Organização Mundial do Comércio. A manutenção de moedas em patamares desvalorizados não passará despercebida. Politicamente, será difícil resistir à adoção de protecionismo, mesmo que de forma não ostensiva,.
A indústria de transformação continuará sendo a "escada rolante industrial" dos países pobres, mas ela não funcionará tão rapidamente nem irá tão alto. O crescimento terá de se basear em grau bem maior na melhoria sustentada do capital humano, das instituições e de governança. E isso significa que o crescimento continuará a ser lento e difícil, na melhor das hipóteses. (Tradução de Sergio Blum)
Dani Rodrik professor de Economia Política Internacional na Universidade de Harvard, é autor de "The Globalization Paradox: Democracy and the Future of the World Economy. Copyright: Project Syndicate, 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Desenvolvimento e instituições no Brasil - escrito com Ana Elisa Gonçalves Pereira

Estudar as causas das diferenças no nível de desenvolvimento das economias está sempre entre os objetivos dos economistas. Embora o conceito de desenvolvimento venha sendo ampliado, ao longo dos anos, a fim de captar de forma mais abrangente o bem-estar das sociedades, é consenso na literatura econômica que o elevado nível de produto per capita possibilita aos países, regiões ou municípios atingir um padrão de vida mais elevado e, de certa forma, promover o bem-estar social.
Entender quais são as variáveis relevantes na determinação da renda de uma economia e de que forma essas variáveis se relacionam é fundamental, sobretudo como forma de embasar políticas econômicas futuras. A literatura que aborda o crescimento e desenvolvimento econômico ressalta que o investimento em capital físico, capital humano e tecnologia são essenciais para atingir níveis elevados de desenvolvimento. Tem-se ressaltado, também, a importância das instituições políticas e econômicas sólidas nesse processo.
Qualidade das instituições vigentes em cada município afeta o nível de produto per capita
Douglass North, ganhador do prêmio Nobel em economia e professor da Universidade de Washington, em um artigo seminal publicado em 1991, define as instituições como regras do jogo em uma sociedade, por assegurarem os direitos de propriedade, fornecendo incentivos aos investimentos, propiciando melhor ou pior distribuição de riqueza, poder político, capital humano e promovendo a inovação. Portanto, a evolução do arcabouço institucional dos países ao longo da história, na medida em que influenciou o montante de investimentos produtivos e as atividades a que estes investimentos foram direcionados, pode ser vista como determinante para suas diferentes trajetórias de crescimento.
Um bom exemplo é quando se compara a evolução econômica das ex-colônias europeias na América - o Novo Mundo - onde a formação das instituições originais é ponto fundamental para se compreender a grande disparidade de renda e de nível de desenvolvimento existe entre elas. Algumas colônias, como Caribe e Brasil, desfrutavam de condições de clima e solo extremamente favoráveis à produção de culturas altamente valorizadas no mercado internacional e mais eficientemente produzidas em grandes plantações com trabalho escravo (como açúcar, café e tabaco). Houve, portanto, grande fluxo de escravos africanos para essas regiões, possibilitando economias de escala na produção de commodities. A ampla escravidão contribuiu para a distribuição desigual de riqueza, capital humano e poder político nessas regiões e, consequentemente, para a formação de instituições extrativas que não foram favoráveis ao crescimento e desenvolvimento subsequentes ao limitarem as oportunidades econômicas a uma parcela mais ampla da população.
Para capturar esses efeitos empiricamente, realizamos uma análise considerando os municípios brasileiros com dados para o ano 2000. Também utilizamos procedimentos estatísticos que controlam para o problema da endogeneidade, ou seja, de que um maior nível de renda também pode melhorar as instituições (regiões mais ricas tendem a investir mais em policiamento, em educação para a população como um todo, etc.)
Para mensurar a qualidade das instituições, foi empregado o Índice de Qualidade Institucional Municipal (IQIM) elaborado pelo Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão em 2005, com base na Pesquisa de Informações Básicas Municipais de 1999 do IBGE.
Os resultados indicam que a qualidade das instituições vigentes em cada município afeta o nível de produto per capita. Após decompor o nível de produto entre os fatores de produção (capital físico, capital humano e tecnologia), observou-se que este efeito ocorre devido ao impacto positivo da qualidade institucional sobre a produtividade total de fatores e sobre o estoque de capital humano. Os efeitos positivos da qualidade institucional sobre produtividade, capital humano e nível de produto per capita permanecem mesmo quando se leva em consideração outras variáveis, como distribuição de renda, grau de urbanização e distância à capital do Estado. Em outras palavras, uma melhora no nível das instituições municipais incentiva as pessoas a elevarem o investimento em sua formação acadêmica e profissional, assim como estimula a elevação na produtividade por parte das firmas, pois uma maior parte do retorno será retida por elas.
Adicionalmente, pode-se notar que há uma diferença no impacto da qualidade institucional sobre o produto e sobre o estoque de capital humano entre municípios com tamanhos de população diversos. Nos grandes municípios, o efeito das instituições é significativamente maior sobre essas variáveis. Em especial, nos resultados para a amostra de 224 maiores municípios do país (com mais de 100 mil habitantes), o indicador de qualidade institucional municipal foi a única variável importante na determinação do nível de produto, produtividade e capital humano per capita. Esses resultados indicam que municípios maiores possuem mais problemas de coordenação, mais dificuldade em resolver seus problemas coletivos com base apenas na confiança, e, por isso, as instituições devam ser mais relevantes no processo de desenvolvimento.
Em suma, os resultados do estudo indicam que melhores instituições são de extrema relevância para que ocorra um melhora na acumulação de capital humano e na aceleração da produtividade dos municípios brasileiros e, consequentemente, na determinação da renda per capita. Os investimentos na melhora institucional geram mudanças ao longo do tempo e quase não são perceptíveis no curto prazo, mas são essenciais para que os municípios brasileiros possam experimentar crescimento econômico de forma sustentável, além de propiciarem maior igualdade, liberdade e oportunidades para uma parcela mais ampla da população.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

Universidade Pública

Vale a pena ler essa entrevista. Toca em vários pontos importantes sobre o que é a Universidade Pública hoje:

http://www.schwartzman.org.br/sitesimon/?p=3731&lang=pt-br