quinta-feira, 13 de junho de 2013

Automóveis e instituições

(Diário da Manhã - 12/06/2013)


Um dos fatores cruciais na determinação do desenvolvimento de uma economia é qualidade de suas instituições. O arcabouço institucional fornece os mecanismos de incentivos aos agentes econômicos como, por exemplo, a garantia do direito de propriedade que estimula os investimentos produtivos ao propiciar ao indivíduo o retorno de seus investimentos e trabalho.

Um bom exemplo do papel das instituições pode ser encontrado no setor automobilístico. Em uma recente reportagem da agência Associated Press, republicada por vários veículos de comunicação como o The New York Times e Washington Post, pode-se notar que o diferencial de segurança é extraordinário em modelos similares vendidos no Brasil, Estados Unidos e Europa. A menor segurança dos modelos similares vendidos no Brasil também pode ser verificada pelos testes realizados pela Latin NCAP e Euro NCAP, institutos independentes que realizam testes de segurança dos veículos vendidos na América Latina e Europa, respectivamente. Nos testes, por exemplo, a versão do Nissan March produzido no mesmo país, México, e vendido para o Brasil obteve duas estrelas, enquanto que aquela destinada à Europa obteve quatro estrelas, em um máximo de cinco.

Considerando que são as mesmas empresas que produzem e vendem os veículos nas diferentes regiões, é razoável supor que a tecnologia disponível para o processo produtivo é a mesma, ou seja, a qualidade do produto poderia ser a idêntica independentemente onde o veículo é produzido. Então porque a qualidade - em termos de segurança, pelo menos - não é a mesma? A resposta é clara: a qualidade institucional varia nas regiões, sendo que ela é pior no caso brasileiro.

Na reportagem, um engenheiro da indústria automotiva, que não quis se identificar, menciona que em uma versão existe um reforço na estrutura do veículo, enquanto que na outra não. De qualquer forma, os carros que são produzidos e vendidos em nosso mercado estão de acordo com as normas brasileiras de segurança. Desse modo, as empresas do setor do setor automobilístico só estão respondendo aos mecanismos de incentivos diferentes.

Se as leis fossem mais rígidas no quesito segurança, os carros vendidos no mercado brasileiro seriam mais seguros com pouco efeito sobre os custos e preço de venda. Essa é uma questão que o mercado não consegue resolver muito bem, pois as empresas usam os itens de segurança para discriminar preço, ou seja, cobrar mais caro das pessoas que estão dispostas a pagar por um produto com pequenas alterações. Um bom exemplo é que o custo do airbag duplo instalado fica em torno R$ 140,00 para o fabricante, enquanto que o preço cobrado ao consumidor ficava entre R$ 1.000,00 e R$ 2.000,00, poucos anos atrás. Outro ponto importante é que as pessoas não avaliam muito bem os riscos de um acidente de carro, ou seja, acham que a probabilidade de ocorrência é menor do que realmente é.

Com carros menos seguros, os custos sociais e mesmo estritamente econômicos acabam sendo mais altos. Acidentes deixam pessoas incapacitadas, pressionando a previdência, aumentam os custos nos hospitais pelo maior número de feridos e com maior gravidade nos acidentes, além de retirar a vida de muitas pessoas, com um custo que é difícil de ser mensurado. Ponderando pelo preço que se paga por um automóvel no Brasil, o mínimo que se poderia esperar é um produto de qualidade. Como uma boa parcela do preço é decorrente dos impostos, o governo deveria dar um retorno mais adequado no sentido de fornecer uma legislação mais rígida.

O que esse exemplo ressalta é que a baixa qualidade das instituições faz com que todos percam, pois os custos adicionais para melhorar a segurança são consideravelmente menores do que os custos associados a veículos com reduzida segurança. Analisando que a qualidade das instituições afetam todos os setores produtivos da economia, dá para imaginar que seus efeitos sobre o nível de desenvolvimento de um país são consideráveis.