terça-feira, 26 de novembro de 2013

Investimento em capital humano

(Gazeta do Povo - 14/11/13)

A história brasileira destaca que, no século passado, a grande estratégia de crescimento foi baseada no crescimento do estoque de capital físico via industrialização por substituição de importações. Em alguns períodos, tal estratégia se mostrou bem-sucedida, sobretudo no fim dos anos 60 e durante os 70, quando a economia alcançou taxas de crescimento semelhantes às atuais chinesas.

No entanto, ocorreu uma grande negligência no investimento em capital humano devido, parcialmente, a uma falta de conhecimento da importância desse fator no crescimento e desenvolvimento econômico por parte dos principais gestores de política econômica e dos políticos naquele período. As teorias do capital humano começaram a ser desenvolvidas no fim dos anos 50 e início dos 60 em universidades norte-americanas proeminentes como, por exemplo, a Universidade de Chicago. No entanto, grandes pensadores econômicos já tinham mencionado a importância desse fator em períodos anteriores, como Adam Smith.

A noção de que uma estratégia de industrialização via substituição de importações seria o suficiente para levar o Brasil ao nível dos países desenvolvidos se mostrou incorreta. Em estágios anteriores, quando ocorreu a industrialização de países que já eram desenvolvidos em 1950, como Estados Unidos e Inglaterra, o papel do capital humano não era tão relevante porque a maior parte das atividades laborais e gerenciais não exigia grande nível de escolaridade formal. No entanto, quando o país adotou sua estratégia de crescimento, o capital humano tinha um papel mais relevante pela maior complexidade dos processos produtivos do período, pelo maior grau de fluxos de informação existente e pelas mudanças econômicas e tecnológicas que aconteciam de forma mais acelerada.

O capital humano já era um fator mais importante e complementar ao capital físico. Se tivessem ocorrido maiores investimentos no primeiro, a consequência seria um maior retorno do investimento no segundo, levando a um crescimento relevante no estoque de capital físico. Em outras palavras, mesmo para elevar esse fator de produção, o mais importante teria sido realizar investimentos em capital humano.

Atualmente, existe no Brasil uma maior consciência da importância desse fator de produção no processo de crescimento e desenvolvimento econômico por parte dos gestores de políticas econômicas, dos políticos e da população em geral. No entanto, uma das falhas está em obter um diagnóstico bem elaborado sobre os principais determinantes da qualidade do sistema educacional. Existem vários analistas e pesquisadores nacionais e estrangeiros que estão analisando esse tema e estudos financiados por parte do governo ajudariam a entender melhor essa questão em nossa realidade.

Isso vem sendo feito a passos muito lentos quando comparado a medidas e discussões de elevação dos gastos do governo em educação como proporção do PIB sem ter uma boa noção de onde e como esses recursos podem ser aplicados. O que parece é que estamos colocando novamente o carro na frente dos bois por um pensamento de curto prazo, característico da sociedade brasileira, que se reflete em uma falta de planejamento estratégico. Não adianta apenas elevar os gastos em educação; é preciso, sobretudo, de planejamento e estratégias de longo prazo para alavancar o crescimento econômico e gerar um maior grau de desenvolvimento.