quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Recuperando a Confiança?

(Gazeta do Povo - 27/11/2014)

A indicação de Joaquim Levy para a Fazenda é uma sinalização de que Dilma parece ter sido convencida pelo pragmatismo do ex-presidente Lula, pelas eleições apertadas, pela elevada rejeição que o PT sofre em quase todos os estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste, pelo fraco desempenho da economia, além das manifestações de 2013, de que é necessária uma grande mudança na economia para que o seu mandato chegue ao fim sem exacerbada instabilidade social, econômica e política.
Uma deterioração na economia – que, certamente, também afetaria as conquistas na área social – poderia ser fatal para o PT, ainda mais quando se leva em consideração todos os problemas que ainda terão de ser enfrentados no caso da Petrobras, Eletrobras, grandes empreiteiras etc. Além disso, o partido perdeu participação no Congresso Nacional e enfrenta problemas na própria base aliada, podendo ter um próximo presidente da Câmara dos Deputados que é visto mais como oposição que como aliado.

Joaquim Levy possui sólida formação em economia, vasta experiência pública e privada, competência já comprovada, além da confiança do mercado, o que é essencial para uma pessoa que irá liderar o processo de desatar os vários nós que foram criados na área econômica. Ele é reconhecido pela posição favorável à austeridade fiscal, peça-chave para que a economia possa entrar em uma rota econômica mais favorável, pois uma melhora fiscal propiciaria menor fragilidade das contas internas e externas, menor pressão inflacionária e cambial, redução das incertezas, além da redução da taxa de juros. Todos esses fatores são fundamentais para melhorar os ânimos dos empresários, os investimentos produtivos e a produtividade e, dessa forma, o crescimento econômico.
No entanto, pelo menos duas questões ainda precisam ser resolvidas: uma parte do próprio PT parece não estar convencida de que a economia necessita, com urgência, de mudanças significativas em sua atual trajetória, fazendo críticas ao nome que até já deveria ter sido confirmado pela presidente, o que gera incertezas e fragiliza logo de início o novo ministro caso ele venha a tomar posse; e não está claro se a própria presidente está convencida disso e se, portanto, dará autonomia necessária ao novo ministro.

O primeiro passo na direção correta pode ser dado pela nossa presidente ainda nesta quinta-feira. Vamos torcer para que essa decisão seja tomada e que a autonomia necessária seja dada ao novo ministro da Fazenda, pois, mesmo que isso seja feito, os próximos anos serão difíceis para o governo e a população brasileira. Não gostaria de ter de imaginar qual seria o cenário caso o governo retroceda nessa decisão e coloque um nome mais alinhado com a atual equipe econômica.