Olhando para o índice de confiança do empresário industrial da
Confederação Nacional da Indústria (CNI) de maio de 2014, percebe-se uma
queda do mesmo desde o início de 2012. Nos últimos dois meses, o índice
ficou abaixo de 50, o que indica uma falta de confiança do empresariado
industrial em relação às perspectivas futuras. Esse pessimismo é
generalizado, pois, em maio do ano corrente, ficou abaixo de 50 para as
empresas industriais de todos os portes e segmentos analisados.
É claro que a crise econômica internacional e a elevação dos custos
do setor têm afetado o seu desempenho, mas, como os piores efeitos da
crise parecem ter passado, por se tratar de expectativas (os empresários
estão olhando para o futuro) e pelo fato de a elevação dos custos estar
relacionada muito mais a fatores internos, a explicação para a sua
deterioração provavelmente está associada mais aos problemas da economia
brasileira. Dentre eles, podemos citar a piora nas contas públicas e na
geração de superávit, além da inflação que vem dando sinais de pequeno
descontrole. No entanto, o problema parece ser decorrente, sobretudo, da
falta de clareza sobre o futuro da economia brasileira.
A economia capitalista possui, de forma inerente, um potencial de
instabilidade que vem à tona de tempos em tempos na forma de recessões,
período em que os ajustes necessários são realizados e em que são
criadas as condições para a retomada do crescimento. Um dos papéis do
governo é justamente atuar de forma a criar regulações que reduzam a
instabilidade do sistema econômico, criando certas amarras que reduzam
as situações de desajuste.
Para a redução da instabilidade e, desse modo, da incerteza no
ambiente econômico, é fundamental a criação de regras claras e estáveis,
ou seja, que elas permaneçam independentemente do partido político no
poder e das vontades do presidente, governador, prefeito etc. É
desejável que exista também flexibilidade, pois o ambiente econômico se
altera e regras que eram boas em uma determinada época passam a ser
inadequadas. No entanto, se o conjunto de regras ou arcabouço
institucional é de qualidade, mudanças marginais ao longo do tempo são
suficientes e desejáveis, pois reduzem a incerteza e estimulam os
investimentos e crescimento econômico.
A política de maquiar a real situação do superávit primário, das
contas públicas e da inflação, as intervenções constantes do governo no
mercado, ajudando alguns segmentos e empresas e prejudicando outras, as
alterações das regras de acordo com a mudança de ventos e com visão
míope, além da falta de planejamento de longo prazo, só têm ajudado a
elevar a incerteza dos empresários, prejudicando as expectativas e
investimentos produtivos.
O mercado possui falhas; por isso, o papel do governo é fundamental e
melhora a eficiência econômica, quando as intervenções são bem feitas e
necessárias. No entanto, o mercado funciona muito bem em outros
aspectos e, nesses casos, o melhor que o governo tem a fazer é
estabelecer as regras e deixar os empresários, trabalhadores e outros
agentes econômicos jogarem o jogo do mercado.