A atual queda do preço do barril de petróleo, que ficou aquém da
barreira dos US$ 60, sem corte da produção por parte dos países membros
do cartel da Organização de Países Exportadores de Petróleo (Opep),
parece uma contradição. Recentemente, o ministro de energia dos Emirados
Árabes Unidos (EAU), Suhail Al-Mazrouei, relatou à Bloomberg que a Opep
não irá reduzir a oferta do produto mesmo que os preços fiquem abaixo
de US$ 40 por barril
A referida organização fornece cerca de 40% do petróleo mundial e tem
85% das reservas, ou seja, possui grande poder na formação dos preços
através do controle na quantidade ofertada, e poderia realizar cortes na
produção para elevação dos preços se assim desejasse. Então, quais as
causas que levaram às declarações do ministro árabe?
Em primeiro lugar, é preciso lembrar que existem fontes alternativas
de energia e, no conjunto, a sua oferta tem se elevado mais do que
aquela do petróleo nas últimas décadas. Em segundo lugar, a crise
internacional – que se iniciou em 2007 e ainda afeta duramente a Europa,
além de começar a mostrar sinais mais claros no desempenho da economia
chinesa – reduziu o crescimento previsto da demanda mundial por energia.
Outro ponto importante é que a produção de petróleo e gás de xisto tem
tornado os Estados Unidos cada vez menos dependentes das importações de
petróleo. Finalmente, o preço do petróleo estava elevado, quando
comparado com a média de décadas anteriores, mesmo descontando a
inflação do período, estimulando o aumento da oferta de petróleo e de
fontes alternativas de energia. Todos esses fatores levaram a um excesso
de oferta, com consequente redução do preço do produto.
Um preço elevado do petróleo quase não tem efeitos sobre a demanda,
no curto e médio prazo. No entanto, no longo prazo existe uma
considerável substituição por fontes alternativas. Em economia, dizemos
que a elasticidade-preço da demanda é pequena no curto prazo, mas
elevada no longo prazo. Por exemplo, quem não se lembra do Proálcool,
incentivado pelos choques do petróleo nos anos 70? O elevado preço do
petróleo estimulou o governo militar brasileiro a procurar fontes
alternativas que demandaram investimentos em pesquisa, inovações e
investimentos na produção do etanol. Tudo isso leva um tempo
considerável para ser realizado e, desse modo, o impacto sobre a demanda
do petróleo, via substituição por fontes alternativas, acontece somente
ao longo do tempo.
Atualmente, a Opep parece estar agindo de forma oposta para
equilibrar a oferta e demanda, mas, sobretudo, com foco no longo prazo.
Um preço mais baixo do petróleo irá desestimular novos investimentos na
ampliação de sua produção futura e também em fontes alternativas, além
de tirar do mercado os produtores com custos mais elevados, reduzindo a
sua oferta futura e, portanto, elevando os preços ao longo do tempo. Em
outras palavras, o que pode parecer um paradoxo do ponto de vista da
decisão do cartel da Opep nada mais é do que uma decisão racional tomada
na tentativa de maximizar o seu lucro intertemporalmente.
Nenhum comentário:
Postar um comentário